sexta-feira, 12 de setembro de 2014

LAPINPOLTHAJIEN - TROOPPISET YÖT BRASILIASSA

No início desta semana, o Jeferson (Helvetin Viemärit, Unfit Scum) me deu idéia de postar esse conteúdo no blog e fiquei super empolgado com isso, pois conheci os caras e assisti o show da Lapinpolthajat em Belo Horizonte no MetalPunkOverkill III, que foi do caralho! O texto foi escrito pelo Jussi Hänninen baixista da Lapinpolthajat, na qual relata o que se passou nessa tour brasileira. E é claro, tudo foi escrito em finlandês, porém a Virginia Pezzolo nos deu esse presente ao traduzir isso para todos nós. Muito obrigado Jeferson (por lembrar-se do CrusHead), Virginia (por dedicar na tradução e nos informar) e Lapinpolthajat (pelos shows, cerveja e amizade). Boa leitura. Kippis!
Nunca poderia imaginar que um dia estaria limpando uma tatuagem do Arnold Schwarzenegger numa banheira de um hotel de luxo em Antwerp, quando o Jukkeli me perguntou se eu queria ir ao Brasil com o Lapinpolthajat. "Vamos tentar fazer como se fosse uma viagem de descanso", ele me disse. A visão do Jukkeli era fazer shows e se divertir. Quinze shows, mais dois dias livres, tirando a viagem pro Brasil. Dia 6.3.2014, às 6:30 da manhã eu vi pela janela do avião a cidade de São Paulo e pensei que seria uma viagem muito interessante. A voz na minha cabeça estava certa.
Nosso contato de São Paulo, Jeferson, estava esperando por nós. Colocamos nossas malas no carro Fiat e dirigimos pelas ruas de São Paulo, cheias de grafite, até o a casa dele, que é perto do aeroporto. Jeferson mora nessa vizinhança a vida inteira e conhece as pessoas de lá, então não tivemos que nos preocupar com nada. Nós fomos tomar café na manhã no restaurante local. Logo virou bebedeira e antes da uma da tarde já estávamos esvaziando o bar. Se juntou a nós um carinha chamado Ad, que trouxe pra uns da banda cocaína local custando cerca de 3 euros a grama. Nós éramos os únicos fregueses do restaurante, tirando um adolescente com orelhas gigantes. Não prestei muita atenção nesse moleque, até ele tirar um revólver calibre 38 das calças. O garoto colocou o atendente do local contra a mesa e foi pra caixa registradora. "Ele tem uma arma", falei pro Jukkeli. O Jukkeli olhou pro atendente que parecia calmo e não deu muita atenção para o que eu disse. Logo pensei que a gente veria algo estranho acontecer e na mesma hora o moleque veio pra nossa mesa com a arma na mão. Dei pro moleque minha carteira e o meu telefone e depois disso o Jeferson pulou na frente e falou: "Eu sei onde você mora. Você vai me roubar e meus amigos também?" O cara falou que daria um tiro na cara do Jeferson, mas acabou indo embora.
Pedimos mais cerveja e conversamos sobre o incidente. Todo tipo de pessoa parecia andar por aquele local. Difícil diferenciar quem era criminoso e quem era policial. No final, acabamos indo pra casa dele para beber mais. O Jeferson conversou com uns locais sobre o que aconteceu e com certeza parecia que o moleque não duraria muito. É um jeito comum de lidar com esses menores. Os policiais deixam eles irem embora por uns instantes e depois vão atrás deles em algum canto escondido, onde eles são mortos.
A próxima decisão foi pegar as camisetas que estavam no centro da cidade. O Jeferson pegou o carro, colocou Irwin Goodman pra tocar e fomos pra noite de São Paulo. O automóvel corria pela estrada enquanto cantávamos a música "Meni Rahahommat Pieleen". As ruas estavam cheias de gente, o povo bebia e brigava nas ruas. Minha memória não se lembra de muito do que aconteceu depois.    
Depois do primeiro dia, já parecia que a gente já estava viajando há uma semana. Nós arrumamos nossas coisas e fomos pro bar esperar o Alex, cuja missão era nos dirigir para o nosso primeiro show em Rio Preto. A viagem levou umas seis horas e o local do show era uma cervejaria. Antes de nós, tocou uma banda com uns caras jovens chamada Unabomber. Era um tipo de banda de grind. No local havia em torno de 60 pessoas e um repórter tirou umas fotos nossas. Tocamos razoavelmente bem e depois do show a distro vendeu bastante. Demos autógrafos e tiramos fotos. Isso foi uma estranha experiência pra mim, mas no final da viagem já estava mais acostumado com essa coisa ridícula. Entramos então no carro e fomos pra SP, porque logo de manhã teríamos que partir pra Belo Horizonte.
Chegamos de avião e, com os meus mesmos olhos entusiasmados, vi Belo Horizonte, a cidade do Sepultura. Da janela do carro eu olhava os prédios pintados (grafite), que pareciam contar a história de quem mora lá. Fomos comer na casa do Gabriel e de lá partimos pro lugar de tocar. Era um minifest com o nome de MetalPunkOverkill no estacionamento em cima de um shopping. Apareceram umas 400 pessoas por lá e acredito que metade delas passaram na nossa mesa da distro pra conversar. A falta de sono fez essa parte de posar pra fotos e dar autógrafos parecer ainda mais surreal. Parecia uma pegadinha, que uma hora iria aparecer o Janne Kataja (apresentador de um programa tipo video cassetadas) tirando uma da nossa cara. A line-up desse show era basicamente de Thrash e Death Metal. Farscape e Apocalyptic Raids estavam tocando e o vocalista do Sarcófago também apareceu por lá. O nosso show foi basicamente arrumar as nossas coisas e afinar nossos instrumentos no meio do set. A plateia parecia não se importar e a distro vendeu bem. Depois disso mais fotos e blablablá. A cerveja já não fazia mais efeito, então parti pra caipirinha. Quando você toma duas caipirinhas, nada parece importar mais. O lugar deveria estar vazio pra algo que aconteceria depois, então pegamos dois taxis pro lugar onde deveríamos dormir. O lugar era pequeno e tinha bastante gente. O Tuomas e Jukkeli desmaiaram rapidinho, então eu e o Antti comecamos a fazer o nosso trabalho de relações públicas. Tinha tanta bebida no local, que a gente nem tinha como ficar sem graça de estar lá. O Antti desmaiou depois, mas eu ainda conseguir ver o nascer do sol. Tínhamos que acordar às 8 da manhã, então de novo não dormimos muito. Pelo meu comportamento alcóolico, acabei recebendo mais uma garrafa de cachaça pra estrada.
Dormimos bem na viagem de BH pro Rio. Minha imagem do Rio era de mulher pelada e o imenso Cristo Redentor. Da janela do ônibus, eu só vi o Cristo mesmo. Na estação de ônibus estavam os organizadores Kitia e Júlio. Colocamos as coisas no carro do Júlio e fomos pro local do show. O bar estava meio que aberto, parecia bar de praia, mas era bem longe de Copacabana. Do lado de fora tinha mesas de plásticos e dentro, uma banda surf punk tocando. As pessoas pareciam chegar e, em uma hora, estava cheio de gente. O editor de cultura e um fotógrafo do jornal Helsingin Sanomat apareceram por lá. A banda Urban Chaos tocou muito bem. Nosso show começou bem e as pessoas estavam animadas. No meio do set, tivemos que afinar de novo os instrumentos e isso meio que nos desanimou. A guitarra do Tuomas não se adaptou ao clima e saía de afinação toda hora. Depois do show continuou a saga de beber, conversar e tirar fotos. A camiseta com a estampa do tanque atirando na estátua do Cristo vendeu bem. No final, fomos pra casa do Júlio, o que levou meia hora. Havia um karaokê no local e cantei um pouco The Doors, pra alegria dos vizinhos.
Estava um inferno de quente no nosso dia livre. Sem zoeira, uns 40°C quando fomos pra cidade. O Tuomas decidiu comprar uma guitarra nova, já que a velha só desafinava. Nós pegamos o bondinho para o outro lado do centro. Kitia esperava por nós e nos levou ao Complexo do Alemão. Nas favelas as ruas não tinham nome e ficava difícil imaginar quantas pessoas moravam lá. Perguntamos por um bar. Passamos pela polícia com grandes armas e coletes protetores. A Kitia falou que o aluguel é bem barato nessa área. Pedimos cervejas e ficamos fumando cigarros. A cerveja nunca teve um sabor tão bom. Crianças corriam meio peladas pelas ruas e soltavam bombinhas. Kitia também disse que era pra avisar que mais drogas estavam chegando. Ouvimos falar que os traficantes têm armas pesadas e que até derrubaram um helicóptero de polícia.
Voltamos pra cidade e fomos pra outro lado do Rio. Copacabana é uma praia bonita com hotéis de luxo e cheia de pessoas. Muitas garotas bonitas que pareciam estar cheias de implantes. Será que é sobre isso que o Frederik (cantor popular da Finlândia) canta na música "Rio"? Bebemos caipirinha e comentamos sobre o que vimos durante o dia. Depois de eu dar um cagão em um banheiro público, fomos pra parte boêmia da cidade pra beber cerveja. O lugar é chamado Lapa e tem um monte de bares. Um punk chamado Marcelo nos acompanhou. Ele morava no Complexo do Alemão, mas depois foi morar no squat onde ficamos. Não conseguimos nos comunicar muito, mas a Kitia ajudou. "Mika Häkkinen, Kaaos, Lama, a morte trágica do Senna em Imola, Tampere, qual é o nome da outra cidade mesmo, é, Helsinki!" Compramos mais cerveja com o Marcelo e fomos fumar maconha enrolada em papel da bíblia. Estava quente pra caramba, depois voltamos pra casa do Júlio.
Acordamos muito cedo pra não perder o vôo pra Porto Alegre. O Júlio nos colocou no taxi e fomos pro aeroporto. O Paulo do No Rest/Replicantes nos esperava no aeroporto. A cidade estava com o clima bem mais ameno e tinha um ar europeu. No pôster do show mostrava que a tv local iria nos filmar. Ficamos meio tensos, porque nos shows anteriores não tocamos muito bem, mas no final deu tudo certo. Tocamos cinco músicas e o apresentador entrevistou o Jukkeli e fez a tradução simultânea. A atmosfera estava boa e nos sentíamos felizes que tudo correu bem. O Jukkeli e o Tuomas foram pra casa da Aline, vocalista do No Rest e eu e o Antti fomos pra casa do Romero Pivotto Junior. Eu fiquei meio obcecado pelo nome do nosso anfitrião e tinha que repetir toda hora. De manhã andamos por Porto Alegre, comemos no restaurante vegetariano, bebemos cerveja e mandamos cartões postais. À tarde, o Paulo veio nos buscar e nos levou pra Caxias do Sul, uma cidade vinícola. Percebemos que estávamos subindo a serra quando nossos ouvidos tamparam. Caxias parece uma cidade da Itália. Pessoas falavam italiano e lá tinha também um ar europeu. O lugar do show parecia o Tavastia (local de shows de Helsinki), cheio de fotos de gente dançando country music. Umas 100 pessoas apareceram e, quando a primeira banda tocou, rolou um pit. O organizador tinha um sotaque forte americano no inglês que falava. O bar estava aberto pra gente e muitas pessoas compraram coisa da distro. Outros pediram coisas de graça. Um punk cheirador de cola pediu os sapatos do Jukkeli. Tocamos bem e a guitarra nova não decepcionou. O Paulo filmou e depois nos mostrou o vídeo do show, onde um skinhead local pulava de uma altura de 2,5 m do P.A. A volta foi fumando bastante maconha. Quando acordei na casa chique do Paulo, só tinha uma coisa na cabeça: caipirinha. Compramos os ingredientes no supermercado, já que o local do próximo show não era longe. Dava pra beber e aproveitar a piscina. Esse show foi o menor de todos, onde só tinham as bandas e uns curiosos de plantão. Esperamos a nossa vez de tocar no bar ao lado. Do nosso show, não há nada de muito especial pra falar. Ficamos de novo na casa do Homero Pivotto Junior.
Na sexta, tínhamos que ir com os caras do Replicantes pra Santa Cruz, a cidade dos cigarros. O lugar do show me pareceu meio estranho. Havia arame farpado ao redor da casa e um grande pátio. O lugar encheu de adolescentes punks que pareciam ter fugido do colégio. A tv local estava filmando e uma menininha começou a chorar porque recebeu a palheta de guitarra do Antti. Replicantes tocou antes da gente e percebemos como eles são populares lá. Não me lembro muito do show, apenas que estava muito quente e muito úmido. Vi uma foto depois que tiraram, na qual estou desmaiado na rua. Na minha bebedeira, eu não sabia onde tinha ido dormir, só sei que no meio da noite precisei ir ao banheiro. Saí do quarto sem as calças, fui encontrado por um homem que me disse "guten tag" e decidi voltar pro quarto pra encontrar a parte de baixo das minhas roupas. 
                     
Tomamos café da manhã, contamos o nosso dinheiro e o cara da Binotour veio nos buscar. Antes de ir pra Santa Maria, fizemos um turismo local. O lugar do show em Santa Maria era um centro esportivo. O pôster mostrava que teria umas seis bandas tocando. O lugar estava pela metade. Tocamos o nosso set, mesmo com alguns problemas. No final, claro, tirar mais fotos com as pessoas. Replicantes tocaram por último um set de duas horas. Colocamos nossas coisas no carro da Binotour e fomos pra Porto Alegre. A alegria acabou logo porque o pneu furou e o pneu extra também estava vazio. O macaco não funcionava e isso aconteceu às 2 da manhã. O Antti ajudou o motorista e no final conseguimos tirar o pneu do carro. O motorista começou a rolar o pneu até o posto de gasolina e Tuomas percebeu que isso não iria dar muito certo. Chegando no posto de gasolina, o lugar estava fechado e o nosso motorista teve que chamar um taxi e ir embora com o pneu ruim. Depois ele voltou com um pneu novo. Não consegui dormir no caminho pra Porto Alegre, o motorista estava correndo como louco e com um novo pneu. Homero Pivotto Junior levou nós dois pra casa dele de novo. Mesmo um pouco assustados com o que aconteceu, ainda estávamos positivos. Andamos pra casa da Aline, onde encontramos o Jukkeli e Tuomas de ressaca. O show era 100 km de onde estávamos. Um campo anarquista. Nesse lugar tinha piscina, caipirinha e uma lona cobrindo o palco. Nós éramos a única banda que iria tocar. Nos pediram pra tocar mais, então tocamos nosso set duas vezes. Nos divertimos muito. Depois do show, entramos no ônibus com um monte de gente, mas a gasolina acabou e nós ficamos parados numa descida. Lá estávamos nós, sentados no meio do caminho, fumando cigarros com mais umas 20 pessoas. O motorista ficou parado no meio da estrada tentando parar os carros pra pedir ajuda. Comecei a pensar que essa companhia de transporte (Binotour) deve ter uma porcentagem de fracassos de 66,6%. No final, o motorista conseguiu um taxi, trouxe gasolina e seguimos viagem. Chegando ao nosso destino, Tuomas e Jukkeli partiram pra noite de Porto Alegre.

Na casa do Homero de novo... Que deveria estar pensando: "Que legal, esses doidos aqui peidando no meu sofá por uma semana!" Enfim, o show de hoje era apenas uns blocos da casa dele. Fiquei sentado com o Antti num terraço só olhando as pessoas passarem. O tempo estava ótimo e a cerveja, gelada. Esse bar do show era pequeno como o Factory (venue de Helsinki que já fechou). Um crustão socou um cara de moicano porque este estava ouvindo Oi! music. Será que isso é justificável? Não foi a primeira vez que vimos radicalismos como esse. Uns são anarco, outros são oi, outros são crusts e cada um quer provar o seu ponto e aumentar os seus egos jogando suas preferências na cara de quem é diferente. Às vezes, me perguntavam à qual grupo eu pertencia. Eu dizia que tinha poderes mágicos e podia ouvir Doom e Cock Sparrer sem problema algum. O show foi ok, o único problema é que o Tuomas esqueceu a caipirinha em cima do amplificador e claro, a bebida caiu no chão. A banda local era muito boa, mas eu não lembro o nome dela. Não tenho muito pra falar sobre o resto da noite, vou apenas repetir o nome Homero Pivotto Junior...
Última manhã em Porto Alegre: Colocamos as coisas em dois taxis, falamos tchau pras pessoas e fomos para o aeroporto. Tínhamos o dia livre em SP, mas não queríamos encher o saco de ninguém pra nos buscar, então fomos para um hostel. Mama Brasil hostel foi uma boa escolha. Bom preço, bons quartos e cerveja a qualquer hora. Uma antiga amiga do Jukkeli, Emília, veio visitar à tarde e fomos então todos pro bar. Estávamos muito cansados e não tínhamos forças pra ficar a noite inteira festejando. Decidimos voltar pro hostel.
Tomamos café da manhã e fomos pra Galeria do Rock. São quatro andares de lojas de discos, estúdios de tatuagem, bares, etc. Na volta pro hostel, encontramos um cara chamado Renato, vestido com uma camiseta do Driller Killer, que disse que iria ao show. Ele insistiu em nos dar bebida. Nós aceitamos, pois gostamos de bebida. O Renato nos falou que faz tatuagens e piercings. Mostrei pro Renato o meu sketch de tatuagem do Arnold Schwarzenegger numa motocicleta com uma arma na mão. Ele me disse que, depois das cervejas, poderíamos fazer essa tattoo e não custaria nada. O estúdio era em cima de um salão de cabeleireiros e muitas pessoas passavam para olhar o que o Renato estava fazendo no pé de um gringo. Quando ele terminou, já era hora de nos preparamos pra noite.

O lugar do show é chamado de Zapata e fica na rua Augusta. O Agrotóxico tocou antes da gente um set de 45 minutos e o mesmo Renato estava agitando com vontade na frente. Fizemos o nosso show como de costume, mas o microfone caiu algumas vezes. Estava quente como uma cena de filme pornô dentro de uma sauna. Os caras levaram nosso equipamento pro hostel e eu fiquei no local do show criando caos. Eu estava meio bêbado, comemorando minha nova tatuagem e falando com as pessoas que passavam. Os caras voltaram do hostel e a festa continuou. Uns momentos surreais: Um cara que tocava banjo e gritava "puta travesti" e nós cheirando cola numa sacola de plástico e cantando a música "Lappuliisa" do Klamydia.

"O que aconteceu ontem?", me perguntei quando acordei e percebi que a tatuagem do Schwarzenegger não era um sonho. Estava de ressaca, fui dar um cagão e tentar entender a noite passada. O Jukkeli veio ao banheiro e me disse que o show de Santos estava cancelado. "Melhor pra mim", pensei enquanto limpava a bunda. Comecei a me sentir melhor depois de andar um pouco, comer um hambúrguer e tomar uma caipirinha. Quando voltei ao hostel, o Tuomas ainda estava na cama e o Jukkeli tinha sumido. Decidi fumar maconha com o Antti e beber umas cervejas Skol. O Diego e o Borella do Social Chaos apareceram no hostel e nos levaram pro lugar onde ficaríamos. Um estúdio, onde também mora o vocalista do Armagedom, Renato, e a esposa dele, Gabi. O show à noite seria em Santo André, o que posso comparar como Vantaa de Helsinki. O lugar era legal, não muito no centro. Lá tinha uma mesa de poker, máquinas de jogo e um telão mostrando um show de Heavy Metal. O Social Chaos começou a tocar e foi muito bom. Depois tocamos e a atmosfera no local era bem relax. Voltamos pro estúdio depois do show.

No dia seguinte, percebi que seria um dia difícil. Essas duas semanas de bebedeira total já estavam pesando na minha mente e no meu corpo. Quando a serotonina fica baixa assim, a mente começa a pregar peças e você começa a se odiar. Passei o dia deitado no colchão com a mão no saco. Por outro lado, os outros caras começaram a trabalhar nas músicas que iríamos ainda gravar. Bom, a gente já estava no estúdio, então por que não? O Tuomas estava fazendo a música, nós ensaiamos duas vezes e o Renato apertou o botão pra gravar. O resto vocês podem ouvir no Youtube. Mais tarde o Alex (o mesmo do primeiro show) e o Bruno Bonga do Helvetin Viemärit vieram visitar.

O show da noite era em Sorocaba. O lugar estava lotado. O Bruno nos disse que o local era o espaço alternativo principal de lá. Demorei para perceber que existia um quintal nos fundos que estava cheio de gente. Não estava me sentindo muito social, mas era impossível sumir estando cercado de tanta gente. Sempre tinha um pedindo cigarros ou oferecendo alguma coisa. Ainda bem que conseguimos cocaína e bebida, aí sim meu mau humor mudou para o modo festeiro. A primeira banda era como um Misfits, tipo banda de um homem só. Um moleque estava desmaiado no palco com a cabeça dentro da bateria. Quando ele acordou, deu uma cheirada numa garrafa com cola. Teve mais uma banda muito boa que eu não lembro o nome. O público também estava louco. Somente na Rússia você consegue ver esse tipo de dedicação. Nosso show foi o de sempre. Quando terminamos, pediram 3 vezes pra gente voltar. Com os olhos e a bunda cobertos de suor, tocamos mais. Depois arrumamos nossas coisas e voltamos pra São Paulo. Na volta presenciamos rachas, como se fosse o Ayrton Senna dirigindo na Formula 1. Um carro passou raspando pela gente. Outro veio logo em seguida. Estávamos a 100 km por hora, esses carros deveriam estar no dobro disso. Mais pra frente, presenciamos o segundo automóvel virado no canto da estrada. O Alex ligou pra emergência pedindo ajuda, mas acredito que ninguém saiu vivo dessa.

"Estou me sentindo estranho... Será que comi muito carboidrato na noite passada?", me perguntei enquanto olhava a sacada do prédio da frente. Estava rolando um tipo de strip-tease de uma mulher viciada em crack. Ela tirava e colocava a roupa muitas vezes e ia se olhar no espelho. Os outros estavam dormindo e comecei a curtir esse momento sozinho. Parecia que não tinha mais ninguém no mundo além de mim. Eu apenas e a crackwhore, que não imaginava que eu a estava observando. Logo mais os caras acordaram e tudo voltou ao normal.

O último show da tour era em Itapetininga, um nome muito difícil de se pronunciar. Um cara que parecia ter uns cem anos veio nos buscar com uma van que cabia dez pessoas. Antes de cair na estrada, fomos pra outra parte de SP buscar uma banda de Death Metal chamada Oligarquia e as namoradas dos caras. A gente se deu muito bem com esses guerreiros do Metal barulhentos e que não paravam de fumar maconha. O vovô motorista dirigiu bem rápido e logo estávamos no lugar do show. Começamos a beber pesado com os caras da Oligarquia. Também tinha maconha, cocaína e todo o resto. Não me lembro de nada do show, nem quando me falaram que o Antti caiu em cima da bateria.

"Tocamos nosso último show e é hora de voltar pra casa." "Mas já? Puta que o pariu!" Tomamos café da manhã num bar próximo, mas não desceu muito bem, o estômago estava completamente embrulhado. Uns policiais militares passaram pelo local e comentaram sobre o cabelo do Jukkeli, dizendo que gostariam de ter a coragem de ter um cabelo assim. A Emília nos levou pro taxi e de lá fomos para o aeroporto. Tivemos duas paradas, uma em Bruxelas e outra em Madri. O avião saiu de Bruxelas e logo depois da decolagem, ouvimos um barulho estranho e a aeronave começou a voltar pro aeroporto. O piloto disse que havia um problema na parte hidráulica e também na roda da frente. "Isso não pode estar acontecendo", pensei. As pessoas no avião começaram a ficar ansiosas e uns começaram a rezar. Um trator reboque tirou o avião da pista quando pousamos no aeroporto. Deu tudo certo no final. Só que não havia mais vôos pra gente, nenhum quarto de hotel pra ficar. O Obama e sua turma também estavam em Bruxelas. Nos enfiaram dentro de um ônibus e fomos pra Antwerp. Eu nem tinha um agasalho, apenas um cobertor roubado do avião Finnair e meu baixo. Acabamos ficando em um hotel de luxo. Eu tinha um quarto apenas pra mim, que era três vezes o tamanho do meu apartamento. Boa cama, lençóis limpos, toalhas. Tomei um banho, limpei minha tatuagem e desmaiei na cama.

"Porra, onde estou?", me perguntei quando acordei. Não tínhamos um ônibus perto que nos levasse pro aeroporto. Para piorar, passeatas contra o Obama acontecendo e havia também uma ameaça de bomba. O tempo estava passando e precisávamos ir pro aeroporto. No final, conseguimos achar nosso caminho pra lá. Estava frio porque estávamos apenas com camisetas. Foi uma viagem fantástica e conseguimos um dinheiro do Muses (associação cultural da Finlândia), assim não terminamos a viagem quebrados.

Imekää munaa!

Teksti: Jussi Hänninen

Tradução: Virginia Pezzolo (Ime munaa moi moi!)

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